Não podia deixar de partilhar este texto deste grande Professor; aliás, o meu trabalho de conclusão de pós-graduação foi baseado nas suas obras.
Ouço, várias vezes, que a profissão de professor está em vias de extinção. Não posso concordar, de forma alguma. A relação professor/aluno não se resume a "debitar" conteúdos, fórmulas, teses... É muito mais do que isso. É olho no olho, é o contacto de almas, é a leitura dos sentimentos que transparecem em cada momento.
Ser professora não é sacerdócio, nem vocação, nem paixão...
Ser professora é amor, é dedicação, é estar em permanente aprendizagem. Aprendizagem que envolve o ontem, o hoje, o outro e o "eu".
Sim, estou sempre a aprender!
Sim, continuo a amar esta profissão com todos os prós e contras que possa abarcar.
Sim, tenho orgulho na profissão que exerço, apesar de tantos tentarem denegrir, desrespeitar, desvalorizar...
Sim, repito as palavras de outro Educador, Paulo Freire: "Todas as profissões são importantes mas a de Professor é fundamental".
"Num tempo de grandes mudanças, muitos alimentam visões “fantásticas” de um futuro sem escolas e sem professores. As escolas seriam substituídas por diferentes situações de aprendizagem, em casa e noutros lugares, através de momentos presenciais e virtuais. Os professores seriam substituídos por dispositivos tecnológicos, reforçados pela inteligência artificial, orientando a aprendizagem de cada criança, de forma personalizada, graças a um conhecimento aprofundado do seu cérebro e das suas características.
Seria um futuro sem futuro, pois a educação implica a existência de um trabalho em comum num espaço público, implica uma relação humana marcada pelo imprevisto, pelas vivências e pelas emoções, implica um encontro entre professores e alunos mediado pelo conhecimento e pela cultura. Perder esta presença seria diminuir o alcance e as possibilidades da educação.
Hoje, mais do que nunca, precisamos dos professores. O próximo relatório internacional da UNESCO tem um título que diz muito: Reimagining our futures together: A new social contract for education. Os professores são indispensáveis para construir os futuros da educação, criando as condições para uma educação partilhada, através da qual os alunos aprendam a pensar, a colaborar e a estudar juntos.
Recordo-me de três professores extraordinários que marcaram a minha vida no Liceu Nacional de Oeiras, no final da década de 1960:
- Luís Ardisson Pereira, professor de Filosofia, ensinava-nos a pensar – num tempo de ditadura, o seu ensino respirava liberdade, colocava-nos perante problemas, obrigava-nos a perguntar, e a tentar responder, era um exemplo notável da uma pedagogia da autonomia;
- José Esteves, professor de Educação Física, ensinava-nos a colaborar – para ele, o desporto era um exercício de cooperação, e até de cidadania, uma forma de nos relacionarmos uns com os outros e de agirmos em conjunto, não de competirmos;
- Marinete Leitão, professora de Matemática, ensinava-nos a estudar – no seu magistério exigente reconheço as palavras sábias do filósofo francês Alain: “difícil é conseguir que, no fim, as crianças se agradem com aquilo que, no princípio, não lhes agradava nada”.
A história da profissão docente é feita de exemplos notáveis, como estes que referi a partir da minha própria experiência. No presente, em todo o mundo, continuamos a encontrar professores extraordinários que inspiram e transformam a vida de milhões de crianças e de jovens. A educação é sempre uma relação humana e intergeracional. A pandemia serviu para mostrar que os professores são mesmo insubstituíveis."
António Nóvoa
Paris, 2021
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