"A idéia de que é possível ensinar sem dificuldade deve-se a uma representação etérea do aluno. A sabedoria pedagógica deveria representar-nos o cábula como um aluno tão normal quanto possível: o que justifica plenamente a função do professor uma vez que temos tudo a ensinar-lhe, a começar pela própria necessidade de aprender."
Durante a minha formação acadêmica, sempre questionei meus professores com respeito a este assunto. A nossa formação está direccionada para o aluno "ideal". O aluno que tem uma família estruturada, equilibrada, harmoniosa, com acesso a apoio individualizado e a toda a informação e materiais necessários, que não tem a mínima dificuldade de compreensão, de concentração e de raciocínio e que é completamente bem educado e respeitador das regras.
Será que a nossa formação não devia levar em conta, principalmente, o outro universo de alunos? Aqueles que têm grandes dificuldades de compreensão, de concentração, de raciocínio; já para não falar de todas as outras questões a nível de família (ou a falta de) e tudo o resto.
Mas a realidade tem sido essa. Somos formados para ensinar um ideal de aluno, em vez de sermos preparados para levar os nossos alunos a um IDEAL.
E o que acontece, então, quando entramos numa sala de aula e constatamos que aquele ideal de aluno não se encontra à nossa frente? O que fazemos?
Simples.
-Simples? -pensarão alguns.
Sim, simples. Como num passe de mágica, unimos três pontos: começamos por tentar compreender o que se passa, o que pensa, o que sente esse nosso aluno, tentamos sentir as suas frustações, as suas revoltas; juntamos com tudo o que sabemos, com tudo o que vivemos enquanto professor E ser humano; e, o principal, CONTINUAMOS a estudar, a aprender, a aplicar tudo o que possa contribuir para CHEGAR a esse aluno e transformá-lo num belo IDEAL.
Pois, está bem: mágica! Bela palavra.
Claro que não há mágica nenhuma.
O que há, simplesmente, é muito trabalho, muita dedicação, muito afecto para com todos os alunos e acreditar, fortemente, que eles são os MEUS ALUNOS IDEAIS.
7 comentários:
... e tudo isso em tempo record! Depois vêm os pais e a comunicação social ditar as suas sentenças de morte aos professores que oprema os milagres que eles nao conseguem fazer. Este livro, para mim, pouco mais é do que a conversa do dia-a-dia de uma sala de professores.
...que devia ser lido por muuuiiitttaaaasssss pessoas...
Concordo plenamente. Talvez os nossos alunos ideais estejam à nossa frente todos os dias, só que às vezes não sabemos, não queremos ou não nos deixam. Rotular é sempre mais fácil e assim nas preteleiras sabemos onde encontrar... Não há alunos ideais, mas sim aqueles que nos dão mais ou menos trabalho. Ah pois é!...
Eu ainda estou a pensar nos colegas que tiveram de "aturar" o comportamento de um aluno que passou o ano com nove negativas... (deu nas notícias!) e como sou meio doido, já tentei imaginar como é que ele irá enfrentar os tais que o vão tentar ensinar para o próximo ano lectivo. Se com nove negas teve o bonús que teve, para quê esforçar-se, e os professores deste aluno (ainda bem que é só um!) como serão avaliados? Como é que lhe vão ensinar seja lá o que for sem bases? Este ano estive a dar inglês, o tal aluno vai para o 9º, se ele não sabe inglês de 8º, por isso chumbou, como é que eu vou conseguir ensinar-lhe de 9º? E a malta de matemática? e os outros todos? vamos despachá-los para os CEFs, como se CEF fosse um curso marginal. Então ensinamos aos alunos que eles já estão condenados à partida, são marignalizados por nós que os enfiamos na primeira desculpa que apareçe fornecida por nós próprios. Isto é um bocado auto-fágico!
"...a necessidade de aprender". Muito bem: isso é fácil de fazer, então nas línguas não custa nada. A questão é como incutir-lhes essa necessidade de aprender, sem os ofender e mantendo-os motivados. Na primeira meia dúzia de anos é fácil,mas no 2º ciclo já temos turmas com dois ou três ritmos de aprendizagem diferentes, como é? Como sou contratado nunca apanho o ano lectivo no início, quando lá chego já a confusão está isntalada.
TENS RAZÃO, NUNO. HÁ MUITA COISA QUE DEVIA SER REALMENTE REFORMADA... COM RESPEITO À NECESSIDADE DE APRENDER, MESMO NOS ANOS INICIAIS É MUITO DIFÍCIL, TAMBÉM TEMOS RITMOS DIFERENTES E "PAIS" DIFERENTES. JÁ LECCIONEI ATÉ AO 8º ANO E NAS ESES's, JÁ INICIEI O TRABALHO COM O ANO LECTIVO COMEÇADO; É DESESPERANTE, FRUSTANTE, REVOLTANTE, E ... NÃO SEI PORQUE NÃO DESISTI DE TUDO... TALVEZ PORQUE, ACIMA DE TUDO E APESAR DE TUDO: GOSTO MESMO DE SER PROFESSORA (COMO TU).
Qual desistir, qual carapuça! Agora até temos a internet, até nos vamos motivando uns aos outros, vou ficando cada vez mais rico com as ideias e experiências que vão sendo partilhadas nos blogues, e agora opto por escolher as que me são mais favoráveis, mais saudáveis, e este trunfo é muito positivo.
O sistema precisa efectivamente de ser remodelado mas mesmo no sentido de ensinarmos em novos moldes. Isso requer tempo e competência por parte da equipe ministerial. Sendo que a escola serve para formar cidadãos para se "encaixarem" na vida social, então façamo-lo, e não lhes estajamos a dizer que não prestam para nada, ou então vão todos tirar um último recurso que é ser jardineiro, como se tal não fosse uma profissão espectacular. Ainda não viram o "Eduardo mão de tesoura"!
O facto dos pais também se contentarem que os próprios filhos tirem "pelo menos" um curso profissional também não ajuda.
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