Basta!
Basta de opiniões e palpites
de quem nunca trabalhou dentro de uma sala de aula frente a 20, 30 ou 40
alunos!
Como diz o velho provérbio “só
quem está no convento, sabe o que lá vai dentro”.
Os Professores estão
cansados de tanta falta de respeito. Falta de respeito por parte dos
governantes; falta de respeito por parte de alguma comunicação social; falta de
respeito por parte de alguns encarregados de educação.
Há quem diga: “E as outras
profissões? Também não têm problemas?”
É claro que têm e, por isso,
assistimos a greve de médicos, enfermeiros, oficiais de justiça, maquinistas,
motoristas, …, e todas essas greves causam transtornos à sociedade em geral.
Mas os Professores são os
vilões!
Depois ouvimos: “Coitadas
das crianças que estão sem aulas!”
E os doentes que ficam sem
consultas e têm as suas cirurgias adiadas? E os trabalhadores que são
dispensados porque alguns patrões não querem saber se houve greve dos
transportes?
Mas os Professores são os
vilões!
E já que têm “pena” das
crianças, vamos citar as crianças que são filhos de Professores.
Os filhos dos meus colegas
nunca tiveram os pais (Professores) nas suas festas de escola. Os filhos dos
meus colegas nunca foram levados, no seu primeiro dia de aula, pela mão da sua
mãe ou pai, caso fosse Professor/a. Sei que, prontamente, há quem retruque: “Não
foi porque não quis, pois a lei permite.” É verdade, a lei permite!
Mas os meus colegas, apesar
de sentirem um aperto enorme no coração, optavam por não deixar os seus alunos
nos dias de comemorações na escola. Optavam por estarem presentes, no primeiro
dia de aulas, para acolherem os seus alunos.
Não, os Professores não são
os vilões!
Sim, os Professores estão
desmotivados!
Estão desmotivados para
preencherem relatórios, planos, planificações, grelhas, levantamentos, entre
outros tipos de “papelada”; mas não estão desmotivados para estar com seus
alunos.
Existem aqueles que teimam
em perguntar: “Então, porque não mudam de profissão?”
Esta pergunta é a prova de
quem, efetivamente, não sabe o que é estar numa sala de aula; mas eu respondo.
Eu não mudo para a minha anterior
profissão (técnica em patologia clínica que, por sinal, não trazia trabalho
para casa e nem tinha reuniões após o horário laboral) porque não há nada mais
motivador do que o olhar de uma criança quando descobre que está a LER.
Não há satisfação maior
quando os nossos alunos demonstram satisfação nas aprendizagens que estão
adquirindo.
Não há alegria maior quando
somos reconhecidos e lembrados por ex-alunos.
Não há maior emoção quando
uma ex-aluna diz: “Gostaria que fosse a Professora da minha filha.”
Mas o que leva alguém a
querer continuar na profissão de Docente apesar das reuniões depois de um dia
de trabalho; apesar de toda a burocracia envolvente; apesar de pagarmos
impostos durante 6 anos, 6 meses e 23 dias e não servir para nada; apesar de
não progredir na carreira (mesmo que o mereça); apesar de arrastarmo-nos com
dores físicas pois a idade já começa a pesar e a mobilidade aos 66 anos (idade
da reforma) não é a mesma da que havia aos 30 / 40 anos mas, mesmo assim,
pegamos em crianças ao colo, brincamos, sentamo-nos no chão com elas (mesmo
sabendo que haverá mais dor ao levantar); apesar da falta de consideração por
parte de alguns (poucos) encarregados de educação?
Simples! O que leva alguém a
querer continuar na profissão de Docente é a competência; é a certeza de que
conhece muito bem o exercício da sua profissão; é o prazer que sente toda a vez
que entra na sua sala de aula e encontra olhares ansiosos por mais saber; é o
gosto pelo seu trabalho; é a plena consciência da sua importância na sociedade;
é o amor pelos alunos que lhe são confiados.
Simples, assim!
Pronto! Desabafei!
Deixo uma sugestão a quem
possa estar interessado, seja ministro, deputado, jornalista, etc: Passe uma
semana numa sala de aula, exercendo a prática docente!
Tenho certeza de duas
coisas: passará a respeitar os Professores e, quem sabe, não se apaixone por
esta nossa profissão fundamental para todas as outras e venha a ser nosso
colega.