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MEUS GATOS |
Nunca tive um gato.
Meus pais tiveram um;
aliás, eles costumavam dizer que foi o gato que resolveu ir viver com eles.
Falavam-me muito dele, pois eu ainda não era nascida.
Era um gato preto, já
adulto. Foi batizado com o nome de TUPI.
Naquela altura, viviam
quatro cães em casa. Ele deu-se bem com todos, especialmente com um pastor
alemão (era na barriga dele que o Tupi dormia).
Bem, com todos, menos
um: o “fox terrier”; apesar de nunca se terem enfrentado ou brigado, nunca
partilharam o meu espaço. Eles próprios desenvolveram uma “boa” convivência,
respeitando o espaço do outro.
O Tupi foi castrado,
supostamente, para que ficasse mais “caseiro”. Nada feito. Tupi continuava a
dar as suas saídas para namorar ou, simplesmente, para “vadiar”. Passados
alguns poucos dias voltava, às vezes, bem sujinho ou com marcas das suas
briguinhas. Nesses retornos, a quem é que ele recorria? Pois claro; à minha
mãe, para que cuidasse de suas feridas.
Em nenhum momento, Tupi
mostrou as garras a qualquer elemento da família e, apesar de nunca terem sido
cortadas, nunca arranhou nenhum móvel ou porta de casa.
Meu pai sempre
discordou das pessoas que costumavam dizer “gato não conhece dono”; “gato é
falso”; “gato não é fiel”; e argumentava com a atitude que o Tupi teve com o
meu avô.
Meu avô não gostava de
gatos mas isso não era empecilho para o Tupi conquistar aquele que viria a ser
o seu “companheiro” de fim de noite.
Tupi levou semanas a
colocar o seu plano em ação até conseguir o objetivo: ao terminar do jantar,
ficar no colo do meu avô, até ele se recolher ao quarto.
O gato “sabia” as horas
que meu pai e avô regressavam do trabalho e ia esperá-los à porta de casa. Quer
dizer, ele ia esperar o meu avô. E como havia esta certeza? A certeza de que o
Tupi esperava o meu avô surgiu após o falecimento dele. O Tupi, mesmo depois de
meu pai entrar em casa, continuava à espera do meu avô. Ficava ainda um tempo a
olhar para a porta, por fim, lançava um miado e ia deitar-se no seu canto.
Parecia que a sua razão
de viver estava diminuindo. Escusado será dizer que o Tupi também “partiu”
pouco tempo depois.
Sempre ouvi meus pais
enaltecerem as características dos gatos: independência, personalidade, meiguice,
inteligência, higiene…
Por tudo isso, tenho
receio de não saber ser uma boa dona de gato, ou melhor dizendo: uma boa companheira
de gato.
Sempre tive cães (desde
o meu nascimento) e aprendi com minha mãe a melhor forma de os ter, de cuidar,
de os ensinar, de os amar. (Com meu pai, aprendi como “deseducá-los”!)
E por quê estou a
pensar nisso agora?
Porque o meu marido
“atirou-me” a seguinte frase: “Estou com vontade de ter um gatinho…”
Ui!!!
E agora?
Temos dois cães: um com
13 anos e com 12 kilos; e outro com 7 anos e 27 kilos.
E agora?
Saberei ter, cuidar,
“ensinar”, lidar com um gato? Pois, AMAR, tenho a certeza que saberei.