O Natal aproxima-se e, como de costume, chega o
momento de montar o presépio.
Sempre que começo a desembrulhar as figuras,
relembro as histórias que os meus pais aplicavam a cada uma.
Desde os Reis Magos, com seus nomes e
presentes, passando pelos pastores e o que cada um oferecia; como o que trazia
a vasilha de leite, o que trazia um saco de farinha, aquele que trazia a
gaita-de-foles para oferecer música, a mãe acompanhada de sua criança ou a
velhota que trazia o seu fuso de fiar, entre tantos outros.
Os animais também eram fontes de lendas como os
que ladeavam o Menino Jesus ou as pombas e os galos.
Não podiam faltar os anjinhos e, entre eles, um
que só possui uma asa.
Sempre que pego nesse anjinho, em particular,
lembro de imediato como a minha mãe aproveitou para ensinar-me algo que ficou
enraizado em mim, desde a minha tenra idade.
Quando criança, ao deparar-me com esse anjinho
“estragado”, perguntei à minha mãe porque não o jogávamos fora, afinal era
diferente dos outros que, perfeitos, possuíam as duas asas.
Minha mãe, naturalmente, não perdeu a
oportunidade.
“- Só
por ser diferente não presta? Não merece ocupar o seu lugar no presépio?
Aprende,
filha, que não se pode rejeitar alguém por ser diferente, por ter alguma
deficiência. Ninguém deixa de ser alguém por não ter uma perna ou um braço.
Todos têm direito ao nosso respeito!
Portanto,
este anjinho, mesmo sem uma asa, não deixa de ser um anjinho e tem o seu lugar
ao lado dos outros.”
Ele foi conservado e hoje, após tantos anos, o
anjinho de uma asa só continua a fazer parte do meu presépio.