(Já publiquei este post mas, com a proximdade do Dia do Pai e com certa melancolia que se acentua em determinadas datas, resolvi republicá-lo com algumas alterações)
Já ouvi muitas vezes as pessoas lamentarem o pouco tempo que passaram com determinado familiar ou amigo. Que deviam ter feito isto ou aquilo; que deviam ter feito mais companhia, ou conversado mais, ou brincado mais ou passeado mais; enfim...
Eu só lamento não ter tido mais tempo para continuar a fazer o que sempre fiz enquanto tive meu pai: viver intensamente a sua companhia, aproveitar ao máximo os seus ensinamentos, rir das suas palhaçadas.
Quando eu era criança, ele era o meu companheiro de brincadeiras.
Lembro, perfeitamente, que quando ele saía para o trabalho, eu ainda dormia e quando ele chegava do trabalho… eu já dormia. Mas havia o domingo. Ah, o domingo! Era o nosso dia! Começava logo cedinho, eu pulando para a cama dos meus pais para começar a “farra”, enquanto minha mãe preparava o pequeno-almoço. Depois, se o tempo estivesse agradável, íamos passear no Jardim da Estrela. Ou íamos ao Jardim Zoológico, a Museus, Palácios, Castelos. Como tudo era Grande aos meus olhos de criança, assim como eram Grandes esses passeios!
Mas, se chovesse? Nenhuma chuva estragava o nosso dia! Brincávamos com os jogos da "Majora", com os carrinhos (meu pai fazia caminhos pelo meio das almofadas e almofadões, móveis e tapetes, enquanto minha mãe sorria, divertida com as cenas que fazíamos).
Com meu pai, aprendi a soltar papagaio, a jogar ao pião, ao mikado, ao dominó e às damas.
Fui crescendo e meu pai foi tornando-se “aquele” que sabia muito.
Começamos a colecionar selos. E atrás de cada selo, havia sempre uma lição que aprendi sem perceber que aprendia: geografia, história, política, personagens famosas, etc. Esses momentos foram fazendo parte da nossa vida.
Desde cedo fui convivendo com os livros e começou a desabrochar, em mim, uma grande paixão: o prazer de ler; e como meu pai soube alimentar essa paixão. Paixão essa que se tornou em um amor eterno. Como ele foi “direcionando” os autores e os temas para que o “prazer” não se apagasse na primeira deceção.
Começou a fase de “quando crescer quero ser”… e eu quis ser: professora, cientista, veterinária, ativista do Green Peace… E meu pai nunca se divertiu com estas minhas ambições, pelo contrário, instigava-me a que descobrisse em que consistia cada atividade desejadas. Mas quando os amigos perguntavam-lhe o que ele gostaria que eu fosse (médica, advogada, engenheira,…); meu pai sempre respondia: “Quero que ela seja feliz na profissão que escolher, seja ela qual for.”
Meus pais já tinham passado dos 30 anos quando eu nasci. Sempre ouvi falar do “conflito de gerações”, mas nunca soube o que era isso.
Nunca tive discussões com meu pai? É claro que tive e não foram poucas. A grande maioria por caprichos meus, por causa do meu feitio (muito parecido com o dele, claro). Também houve umas poucas vezes em que ele esteve errado. Nessas alturas, sempre foi HOMEM suficiente para reconhecer o erro e pedir desculpas. Por incrível que pareça, nesses momentos, ele ainda tornava-se MAIOR aos meus olhos.
Quantas vezes cancelei saídas com colegas pois preferia passear à beira-mar com ele! E como conversávamos, sobre variados assuntos, nesses longos passeios...
Sempre foi o meu companheiro, o meu amigo, o meu conselheiro, a minha referência.
Ele ensinou-me que a maior lição está na “atitude” e não só nas palavras. Aquela frase “faça o que eu falo e não o que eu faço”, nunca teve serventia lá em casa.
O que meu pai “exigia” de mim, ele também praticava. Se eu tinha que dizer aonde ia, com quem e a que horas voltava; meu pai também tinha a mesma atitude com minha mãe; por exemplo.
O respeito sempre foi uma via com dois sentidos.
Aliás, o Respeito era algo levado muito a sério: respeitar o outro, respeitar a natureza, respeitar a nós próprios, respeitar os nossos sentimentos e os dos outros, independente de sexo, religião, partidos políticos, times de futebol, etc.
Meu pai sabia cativar os jovens, os velhos, as crianças. Como? Era tão simples: sabia ouvi-los.
Como é bom quando alguém nos ouve!
Enfim, podia escrever muito mais sobre o meu pai mas … por tudo isto e muito mais... sinto muito a tua falta, Pai...
12 comentários:
Ana Paula, que história de vida mais emocionante! É incrível como sua história com seu pai se parece a minha com meu pai, nós também passeávamos muito pela cidade visitando lugares interessantes e históricos, nós também adorávamos ler e éramos conhecidos numa livraria do centro da cidade e nós também colecionávamos selos!!! Meu pai adorava selos e eu queria colecionar apenas selos de animais de todo o mundo! São lembranças maravilhosas que vou guardar e relembrar para sempre com muita alegria. Meu pai tinha quase 40 anos quando eu nasci e ele sempre foi muito preocupado com os filhos, sempre nos ajudou em tudo que pôde.
Foi ótimo ler o post e relembrar minha infância.
Beijos
Laís
Gostei do texto, mas no que à falta diz respeito, aqui está sobre o meu Pai :(
http://sairdaspalavras.blogspot.pt/2010/04/assumirei-o-teu-caminho.html
Bom dia
Enquadrei-me perfeitamente neste texto e dou-lhe os parabéns pelo pai que teve. Eles foram os nossos heróis e os nossos melhores amigos.
Hoje apenas lamento as nossas divergências e o não ter aproveitado mais o seu carinho e a sua companhia.
Se o meu papá estivesse vivo tenho a certeza que ele me ajudaria a escrever os melhores textos do meu blogue recordando pessoas e coisas da sua vida aqui na aldeia.
Feliz domingo querida amiga Rosa Carioca. Você que também tem cachorros sabe melhor do que eu como eles são amáveis e os nossos verdadeiros amigos, não pedem nada e em troca nos dão muito carinho e atenção. Já tinha lido esse teu texto no ano passado, mas foi muito bom re-ler novamente e outra vez me lembrei do meu velho e amado pai. Um grande beijo, FIQUE COM DEUS.
miles de gracias por hacernos participes de tan bellos y tiernos recuerdos de tu bello padre, muchos besinos con todo mi cariño y admiración.
Olá, Ana. estar aqui é muito bom... Estive longe do blog essa semana, porque tive problemas com a conexção da internete. Hoje estou de volta! Obrigada amiga pelo apoio e carinho da visita! Muita emoção no seu texto. Sei o que é perder um pai, uma mãe. Pois não os tenho mais... meu pai era parecido com o seu. Eu o amava muito! Já muitos anos, eu ainda sinto falta dele. Bjos e ótima semana pra vc!
Venho aproveitar pela vossa partecipação no meu sorteio,a Kika adorou o Melga
A doreie esta conto maravilhoso
Infelismente fiquei sem o meu há 5anos e ainda não consegui recuperar a sua falta....
Beijinhos e ronrons
Graça e Kika♥♥♥
Rosa,seu texto comove demais,menina!Pai tb é um só e perder um pai é triste!Linda sua hist[oria, sua memoria dele tão bonita...eu me emocionei e adorei seu texto!Bjs,
Minha querida amiga!
Hoje venho vestida de blogueira para pedir e desejar felicidade prá vc,prá mim,prá nossos amigos que fazem esse mundo acontecer,virar,mexer,remexer o mundo do bloguista...
meu recadindo para seus típanos;vc é uma blogueira da qual tiro o chapéu por ser boa comentarista,com porte de boa amiga da qual aprendi a amar como aquela amiga que mora do outro lado da nossa rua,que temos o prazer de sentir sua energia.Continue assim,que continuarei te amando neste universo tão globolizado,ou melhor,tão nosso,kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
bjs meu docinho de côco!
Eu também já não tenho o meu, e não há palavras para qualificar a sua falta.
O teu texto é de uma rara sensibilidade e chega a ser comovente.
Minha amiga tal como o seu pai também o meu foi uma pessoa extraordinária que me ensinou a ser aquilo que sou. Quanta falta também me faz o meu paizinho, dói o coração pensar que já não está aqui ao meu lado...
Beijinhos
Maria
Amiga só agora tive oportunidade de ler este teu post, estou profundamente emocionada.
beijinhos
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