Pedem-me evidências.
Tenho que relatar evidências do meu trabalho.
Será que posso escrever como os olhos do meu aluno ficam brilhantes ao descobrir que as letras podem fazer sentido? Será que posso descrever esse olhar como uma evidência de que estou a mostrar-lhe o início de um mundo novo?
Será que posso escrever como evidência de “Articular Conteúdos”, a alegria que sinto quando um aluno resolve uma situação problemática, seja ela matemática ou não?
Será que posso mencionar como evidência de “Formar para a Vida”, a emoção que sinto ao observar os meus alunos ao longo de um Ciclo e constatar todo o progresso que atingiram?
Será que posso registar como evidência da “Articulação Escola/Família/Comunidade”, todo o respeito, apoio, colaboração e carinho que recebo dos pais e familiares dos meus alunos? Sim, sei que a imprensa está sempre a falar que os pais não apoiam os professores mas, desde que sou professora, tenho tido a “sorte” (chamemos assim) de receber todo o respeito dos encarregados de educação.
Será que estas evidências podem constar de um relatório de auto-avaliação?
Não, não podem. Neste momento, somos comandados por números, estatísticas, níveis de desempenho e blá, blá, blá.
E, eu, sinto-me engolida numa máquina que ordena-me que processe papéis em que estejam presentes números, estatísticas, evidências…
Resta-me um consolo. Esse olhar brilhante, aquele sorriso triunfante, aquela frase sentida pronunciada por um avô, entre tantas outras “evidências”, são as minhas notas de desempenho que forçam-me, cada vez mais, a continuar nesta profissão que tanto amo e respeito.