“Tenho a esperança que a turma deste meu
filho ainda terá a oportunidade de conhecer aquela professora que a turma do
meu outro filho conheceu.” (Esta frase é de uma mãe, de dois filhos, que está a
referir-se à professora de ambos.)
Por onde andas tu, que começaste a ser
professora em 1994?
Que choravas, de alegria, quando os teus
alunos começavam a ler as primeiras palavras?
Que passavas os fins-de-semana a passar
inúmeras atividades no mimeógrafo para distribuíres aos teus alunos que não
tinham dinheiro para comprar os manuais escolares?
Que levavas a tua turma, com 38 alunos, para
debaixo das árvores do recreio, para lerem ou, simplesmente, ouvirem as
histórias que lias para eles?
Que criavas jogos para facilitar a
aprendizagem dos conteúdos a serem trabalhados?
Que desenvolvias projetos de solidariedade em
benefício de animais, crianças carenciadas, idosos?
Que pesquisavas, constantemente, lugares onde
levar os teus alunos para ampliarem os seus conhecimentos?
Que compravas revistas e livros sobre o tema
Educação para que os teus alunos tivessem uma professora sempre atualizada?
Que começavas o dia com um estrondoso BOM DIA
ao que os teus alunos respondiam da mesma forma e com gargalhadas à mistura?
Que ao fim de desenvolveres as tuas aulas e
ecoava o sinal da escola, marcando o fim de mais um dia letivo, ouvias dos teus
alunos: “Já acabou a aula?”
Que sempre tiveste turmas com grandes
desafios, com grandes problemas comportamentais, com grandes dramas emocionais
mas que sempre conseguiste ultrapassá-los?
Onde andas tu, que não tencionavas ser
professora, que começaste a título provisório mas que, após o primeiro contacto
com aqueles olhinhos cheios de curiosidade, traquinice, meiguice; decidiste que
era essa a missão que querias enfrentar e desenvolver da melhor forma possível?
Por onde andas?
Andas perdida com tanta burocracia?
Andas amarrada com tantas grelhas,
relatórios, formulários, avaliação?
Andas entediada com tantas reuniões que não
levam a nada?
Andas frustrada com conteúdos tão extensos e
tão fora de contexto, pois não levam em conta o desenvolvimento das crianças?
Andas dececionada com a desvalorização, por
parte dos governantes, dos meios de comunicação e de alguns pais, da
importância que a tua profissão tem em qualquer sociedade?
Andas cansada de veres tantas injustiças,
mentiras, hipocrisias, falsidades?
Andas desiludida com a carreira docente?
Até podes ter razão…
Sim, sei que o teu cuidado, respeito com os
teus alunos não se alterou.
Sim, sei que a tua preocupação com uma
aprendizagem de qualidade não mudou.
Mas volta!
Volta para a tua sala de aula e diz, bem
alto: BOM DIA!
Volta a ensinar “brincando”!
Volta, mesmo que tenhas que “remar contra a
maré”!
Volta a ter o prazer de ouvir umas boas gargalhadas
desses pequenitos só porque fizeste uma palhaçada ou porque inventaste algo
diferente!
Volta a lembrar o que teu pai disse quando
regressaste da primeira aula que deste àquela tua primeira turma, repleta de
casos de carência material, emocional e violência doméstica:
“Procura proporcionar aos teus alunos, naqueles
momentos que estás com eles, boas memórias. Não vais mudar o mundo, mas podes
mudar a vida deles, nas tuas aulas.”