Era véspera de Natal,
em Luanda, e os pais de Ana, resolveram visitar um casal amigo que tinha dois
filhos, levando-a com eles.
Os filhos do casal
chamavam-se Maria, que tinha a mesma idade de Ana, nove anos, e João, mais
velho uns dois anos.
Os casais conversavam
na sala de estar, enquanto a Ana e a Maria brincavam no quintal enquanto
falavam das suas expectativas sobre o que traria o Pai Natal.
Encontravam-se no auge
da animação, quando o João passa por elas e afirma com grande autoridade:
- O Pai Natal não
existe!
Ana e Maria
entreolharam-se, emudeceram perante tal declaração vinda de alguém mais velho
que elas. Nos olhos de Maria começaram a surgir pequenas lágrimas. A Ana tenta
salvar a situação e exclama, convicta:
- O Pai Natal existe,
sim! É ele que traz os presentes no dia de Natal!
O João olha-a de forma
soberba e reafirma:
- Vocês são mesmo muito
infantis! O Pai Natal não existe e quem traz os presentes são os nossos pais.
Eles é que compram e colocam ao pé da árvore enquanto dormimos. Miúdas!
E lá vai o João, com a
bola debaixo de braço e com a cabeça bem erguida, encontrar com outros meninos
para mais um jogo de futebol.
Maria continua calada
mas nada feliz com o que acabou de ouvir. Ana não pode ficar parada. Entra pela
casa, vai direto à sala de estar e interrompendo a conversa dos adultos (uma
grande falta de educação), questiona o pai:
- O Pai Natal existe?
O pai, sussurra-lhe:
- Em casa, conversamos.
Mas ao tentar retomar a
conversa com seu amigo, a Ana não se cala, mesmo sentindo o olhar da mãe;
aquele olhar que dizia, claramente, que não era a hora, nem o momento, para tal
questionamento:
- O Pai Natal existe?
Num tom baixo, o pai
olha bem nos olhos de Ana e repete:
- Em casa, conversamos!
Não adiantava! Ana
conhecia bem demais seu pai e sabia que, naquele momento, não haveria resposta.
Voltou para a companhia
de Maria, remoendo seus pensamentos. Por que será que o pai não respondeu?
Bastava dizer sim ou não! Logo os pais que sempre respondiam todas as perguntas
que fazia!
Quer dizer, todas, não!
Quando ela perguntava o significado de alguma palavra, eles mandavam-lhe
procurar no dicionário.
Não restou nenhuma
vontade para as meninas voltarem ao assunto do Pai Natal. Será que o João tinha
razão?
O pai de Maria e João
ofereceu-se para levar os pais de Ana, e ela, a casa, de carro; o que
significava que tinha mesmo que esperar chegar a casa.
Finalmente, em casa!
O pai senta-se e a Ana
foi logo para o seu lado mas, desta vez, não precisou voltar a formular a
pergunta pois quem faz isso é o pai:
- Acreditas que o Pai
Natal existe, Ana?
Ora esta? Então devolve
a pergunta? Depois de refletir um pouco, a Ana responde:
- Acredito.
- Então… ele existe! –
respondeu o pai.
Ana olha-o admirada.
(Como assim?)
O pai, percebendo a sua
admiração, continuou:
- Ana, muitas vezes, se
acreditares em algo, isso passa a existir. Se não acreditares, não existe! Se
acreditarmos que o Amor entre as pessoas existe e que faz muito bem, então … o
Amor existe! Se acreditares que dias melhores virão, então a Esperança existe!
Ouvirás muitas vezes a palavra Fé que está intimamente ligada à confiança.
Ana ouviu essa
explicação que tornou-se uma lição para a vida.
Neste início de ano, mais
do que nunca, Fé significa ter esperança que algo vai mudar de forma positiva, para
melhor.
Assim seja!